quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Música e a Liberdade Sexual

No final dos anos 60, mais precisamente em1969 uma data bem sugestiva, era lançada uma canção que falava de amor e sexo chamada Je T'Aime... Moi Non Plus. Composta por Serge Gaingsburg e cantada em dueto por ele e sua amada Jane Birkin, a canção era uma narrativa do ato sexual com diálogos de amor e gemidos e sussurros. A canção havia sido escrita dois anos antes e a principio seria interpretada por Bigitte Bardot, ícone do cinema francês e símbolo sexual daquela geração. Mas Bardot achou a canção um pouco além dos limites da sensualidade e desistiu do projeto. A canção foi lançada e se tornou sucesso, embora tenha sofrido censura nas rádios naquela época.

Esta era a época do movimentos hippies, de paz e amor livre. Era de se esperar que uma canção ousada surgisse em meio a este movimento. Mas a sensualidade e mesmo a sexualidade da canção receberam um cuidado artístico. Melodicamente falando, a música traz uma linha bela, aguda e marcante. O texto é romantico, sem ser piegas nem se tornar vulgar. A construção musical como um todo a torna uma obra duradoura e icônica.

Nos dias atuais, os ideais de liberdade sexual tem-se confundido com promiscuidade. As canções tratam cada vez mais de temas sexuais, porém sem nenhum cuidado artístico. Existe uma tendência à vulgarização do ato sexual e a uma depreciação cada vez maior da figura feminina. Nos hits do momento, é comum ver as mulheres sendo denominadas de cachorra, rapariga, safada, etc. Enaltecem os atributos de nádegas e seios grandes e se utilizam de duplo sentidos nas mais pobres rimas que se possa imaginar.

A música serviu no passado para quebrar barreiras e tabus, falando francamente de assuntos polêmicos mas com objetivos artisticos. Nos dias atuais, a música é produto de consumação rápida e com um prazo de validade curto. É feita para ser consumida rapidamente e posteriormente ser descartada. Não há cuidado estético ou artístico. Não há levantamento de questões polêmicas que sirvam para gerar um debate acerca de questões morais, cívicas ou religiosas. Simplesmente se usa de uma combinação sonora e um texto pobre para vender o produto com uma embalagem chamativa, e quase sempre apelativa.

Mas será culpa que a culpa desta decadência se deve às revoluções sexuais das décadas de 60 e 70? Qual o limite entre a sensualidade / sexualidade e a vulgaridade?

Esta é uma linha tênue que deve ser tratada com cuidado especial. Nas artes este cuidado tem que ser redobrado, pois elas são formadoras de opinião. Acho importante que a música tenha sido uma porta para se discutirem questões sexuais, até porque são questões da natureza humana e devem ser exploradas na sociedade. Mas o sexo não se resume ao ato, nem tão pouco ao desejo carnal e instintivo dos seres vivos. Ele tem haver com relações humanas de afetividade e cumplicidade e, porque não, de religiosidade. Na Índia, o sexo é tido como arte que aproxima os seres vivos dos seres divinais. Se ensina a arte do prazer e do respeito mútuo.

Tantas outras canções exploraram a sexualidade sem que fosse preciso cair na leviandade. Não precisa ser apelativo para ser controverso. Não precisa ser depreciativo para ser rentável. Não se consegue ser artístico quando o único pensamento é mercadológico. É possível ser ousado sem ser apelativo ou vexatório.

Parceiro: Casa da Musika

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