domingo, 6 de julho de 2014

Pátria de Chuteiras

Um jogador de futebol cai no campo e o país para para ver.
Uma vértebra fraturada e algumas semanas de repouso.
O jogador sai de helicóptero, soro e monitor cardíaco para sua casa.

Cena nada semelhante com o que vemos no dia-a-dia do brasileiro comum.
Nos hospitais, idosos esperam sentados em cadeiras pelo atendimento de urgência.
Homens, mulheres e crianças em corredores apertados, sem atendimento de qualidade.
Mulheres que acabam parindo na porta de hospitais por falta de macas, leitos ou qualquer outra coisa.

Não se trata de minimizar a dor do outro, mas em se maximizar
É duro sair na fase final de uma Copa que você esperou 4 anos para disputar
Mas ocupar 90% das mídias com o caso, é no mínimo ridículo.
Existem outras tantas coisas a serem priorizadas.

Um viaduto caiu em uma cidade, pessoas morreram.
Uma mulher que estava trabalhando num ônibus, perdeu a vida.
Deixa uma criança de 5 anos. Uma menina que nunca mais verá sua mãe.
A jovem de 24 anos foi uma verdadeira heroína ao frear o veículo que dirigia, evitando mais mortes

Um outro rapaz, de 25 anos, foi esmagado pelo viaduto.
Iria buscar sua esposa no trabalho. Um homem trabalhador que criava os enteados como filhos
Seus pais vivem uma segunda tragédia, pois perderam uma filha quando esta tinha 13 anos, vítima de uma doença rara.

Não houve tamanha comoção. Na mídia apenas flashes rápidos.
Os meios de comunicação estão mais preocupados com a copa
Com os "heróis" de amarelo que correm atrás de uma bola visado o auge de suas carreiras.

Enquanto isso, na distante Recife, protestos contra a especulação imobiliária acabam em violência.
Pessoas que acampavam tranqüilamente nas ruínas do cais são expulsas com brutalidade.
O povo é ignorado.

E o que falar de outros esportes?
Atletas que não tem nem metade da atenção dos nossos boleiros masculinos.
No futebol feminino, sequer uma liga.
Mesmo tendo a maior atleta de todos os tempos nessa categoria

O que falar de Laís Souza?
Uma jovem de 25 anos que ficou tetraplégica defendendo as cores do país.
Houve comoção igual?
Hoje, ela luta para pagar seu tratamento, dependendo de "vaquinha" da população, pois o COB não acha que ela estava ainda "à serviço" deles pois estava na fase de treinos.

Mas o jovem mimado, egocêntrico e vaidoso é supervalorizado.
O jovem que se negou a entregar ovos de páscoa em um lar que cuida de pessoas com paralisia cerebral apenas por ser este um local espírita.
Um jovem que forçou a demissão de um técnico de futebol vitorioso em sua equipe, pelo melindre de ter sido punido por insubordinação.

Será que é realmente indiferença à dor do outro não se emocionar com tais discrepancias?
Será que temos todos que inundar as redes sociais com palavras de revolta contra um infeliz que teve uma atitude irresponsável e machucou um colega de profissão.?
Quando nós mesmos tivemos atletas que feriram outros no passado.

Reasco, jogador do São Paulo, teve fratura na tíbia em 2006 devido à um chute de um jogador do botafogo. Não houve comoção.
Juninho Paulista ficou fora da Copa de 2008 quando estava no auge por ter fratura no tornozelo.
Não houve comoção.
Leonardo, lateral do Brasil na copa de 94, deu uma cotovelada no jogador dos estados unidos e este foi submetido à cirurgia. Houve quem defendesse o jogador brasileiro.
Tantos e tantos outros casos

Sempre fui fanática por futebol.
Mas minha paixão pelo esporte não pode e não será maior que meu senso de justiça.
O país valoriza os milionários da bola e escraviza o seu povo.
Dá-lhes pão e circo e alimenta sonhos alheios a realidade da população

Viva a copa da mentira
Viva o país das vaidades
Onde não há diferença social ou injustiça.

Parafraseando o poeta Renato Russo
Vamos celebrar a estupidez de quem escreveu este post.