sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O que se esperar?

Fecho a porta por detrás de mim
No vazio do meu quarto reencontro a dor
Uno as mãos em preces pelo inatingível
A dor me consome e rouba a paz

O travesseiro, outrora macio, agora parece-me cheio de espinhos
A confortável cama, parece abrigar pregos que penetram a alma
Suor de frio, coberta de calor
Olhos fecham, olhos permanecem abertos

A luz é incômoda, assim como a escuridão
A mente não para e gira como um carrocel
Gira sem sair do lugar, presa numa trajetória cíclica
Que sempre retorna ao mesmo ponto

Antes que me seja possível controlar, lágrimas rolam como cachoeira
Escorrem pela pálida face
Molham o já húmido travesseiro
Sem alarde e sem som

Rolam com a naturalidade de um rio em curso
Rolam como uma insistente chuva de verão
Um inverno interior que me rouba toda a luz do sol
Me arrasta pelo cansaço e me impede o repouso

Meu jardim está secando
Flores que sumiram brusca e repentinamente
Outras que resistiram bravamente à rigorosos invernos
Mas que que perdem suas pétalas à cada dia
Se esvaindo com uma absurda lentidão

Não há o que fazer
Muda, atada, incapaz
Buscando ser ouvida e gritando aos quatro ventos
Só recebo os ecos da minha insignificante voz

E assim prossigo por mais uma noite
O relógio me traiu
Gira rapidamente em minha tentativa de adormecer
Retrocede suas batidas no momentos em que repouso

As luzes piscam anunciando a esperança
Mas estão encobertas por escuras cortinas
Não há raio de sol e nem brilho do luar
Apenas a dor de não se ter o que esperar.

domingo, 23 de novembro de 2014

Poema da meia noite

Fito a luz fina que resplandece no meu quarto
No silêncio da noite, me calo
Lagrimas em meus olhos rolam como cachoeiras
Quão profundas são estas olheiras

São meu erros maiores que meus feitos?
Sou eu punida pela minha fragilidade?
Meu destino é perder o que mais estimo?
Existe rede de salvação no fim desta queda livre?

Quem me ouve, não me entende
E quem me entende, não me ouve
Olhos, ouvidos, punhos cerrados
Negação, escuridão

Ouçam, lá vem eles outra vez
Vestidos em capas douradas, com lanças em punho
Vem cavalgando em seus corcéis negros
Pisoteando minha alma até que ela caia em profundo pesadelo

São os agentes da dor
Os fantasmas da desolação
O grande perigo da humanidade
A consciência

Têmporas se contraem em dor
Pulsante, a cabeça pende
Os olhos pesam, inchados como bolas de algodão embebidas em álcool
O relógio bate a hora do silêncio, da solidão

Sinto falta de um abraço
Sinto que desperdicei aquilo que de bom desfrutei
Sinto que não vou reaver o que de precioso perdi
Desejaria morrer mil vezes em agonia,
Para recuperar por um instante aquilo que perdi

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Dor

Quem pode me ouvir no silêncio da noite?
Quem vai suportar as lágrimas de uma invisível criatura?
Quem vai ouvir um coração pulsante em agonia?

Não, as paredes que se fecham não são apenas muro
São redoma
Encaixotando a dor e a esperança.

Em silêncio repousam as lágrimas
Elas que são rio
Elas que tentam lavar a dor.

A cortina se fecha
Sem público, sem aplausos
Não há gran finale

O mundo segue seu curso
Todos dormem em paz

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Afinal, fim das eleições.

Chegamos ao fim de mais uma eleição. Eleicao esta que abusou do direito de ridicularizar a nossa política. Vi, ao longo dos últimos meses, um excessivo romance, uma certa idolatria e um excessivo espetáculo terrorista.

Nas redes sociais, enxurradas de posts de denúncias, ora falsas, ora verdadeiras. Diariamente, 10, 15, 20 publicações e uma imensidão de exageros, tanto na tentativa de exaltar um lado, como na tentativa de execrar o outro. Me senti no meio de um campo de futebol cheio de torcedores fanáticos.

A política nunca foi tão pobre, tão relegada a fantasias. Amor e ódio tomaram o lugar de ideias. Transformaram os candidatos em heróis e vilões. De parte à parte, podemos observar o quão infantil e ideologicamente fraca esta nossa postura política. Onde estão os projetos? Onde estão os argumentos?

Sim, todo e qualquer governo tem suas virtudes e seus defeitos. Todos eles, sem exceção, trazem benefícios para uns e malefícios para outros. Uma balança não se equilibra apenas de virtudes, mas também de falhas. Mas o benefício que se tem é obrigação de cada governante. Não devo nada à ninguém, que não a mim mesma. Sou eu que defino as metas que quero cumprir para o meu futuro, não são os governantes "bonzinhos" que me impulsionam.

Nem Aécio, nem Dilma, nem Marina, nem Luciana não representam a grandeza deste país. Quem representa sou eu e você. Somos nós como um todo. Não uma mísera parte que enche seus próprios cofres e se enche do poder que nós lhe damos. Que legado VOCÊ quer deixar para o país? O legado de um bom pai, filho, amigo? Uma pessoa digna que se orgulha do trabalho que exerce, que faz com amor, apesar das duras fases da vida?

Não importa quem venceu. Quem faz a política diária somos nós. Quem detém o poder maior de mudança é o povo. E quando o povo percebe isso, grandes transformações são possíveis. Mas o povo são todos. Pobres, ricos, empresários, garis, professores, alunos, indigentes e milionários. Somos todos gente e somos todos nação. Sulistas, nortistas, nordestinos, sudoestinos, de ponta a ponta. Somos todos Brasil. Somos uma nação heterogenia que não aprendeu a se unificar.

E não aprendeu que política não se faz com palavras bonitas e nem pseudo ações paliativas. Se faz com cobranças de atitudes, com a luta pela honestidade e pela clareza das ações dos nossos governantes. Governantes estes que são os nossos empregados, não os nossos patrões. Sejam eles de que partido forem. Ou a qual legenda respondem. Seja de qual R, S, V, T ou D que sucede ao P. "P" este que antes de ser "partido" é "povo".

Ainda há tempo de sermos políticos. Respeitemos as diferenças, pois nelas se encontram o diálogo. Sem diálogo, não há crescimento. Não existe "certo" ou "errado". Existem posturas diferentes que, se forem bem aproveitadas, geram grandes mudanças e boas ideias.

Não façam oposição por oposição. Todos queremos um único bem, que é o crescimento da nação.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Vulcão da alma

Mais uma vez ele surge
Aquele ímpeto, aquela ânsia
Explode como um vulcão de dentro para fora
Queima tudo ao redor

Surge inexplicável
Pulsação acelerada, tremor de mãos
Vontade de correr, vontade de morrer
Explode num simples ato destrutivo

Fica a dor, a vergonha
Ficam as marcas no corpo
A lava que escorre lenta
E o vulcão que adormece

Passa o dia, chega a noite
Fantasmas que rodeiam meu quarto
O lunático na minha cabeça
Só, o vulcão acorda

Devastação
Alma em conflito
Explosão
Dor e confusão

O vulcão não cessa
Apenas adormece
Guardando em si a violência
Que espera ser mais uma vez liberta

domingo, 6 de julho de 2014

Pátria de Chuteiras

Um jogador de futebol cai no campo e o país para para ver.
Uma vértebra fraturada e algumas semanas de repouso.
O jogador sai de helicóptero, soro e monitor cardíaco para sua casa.

Cena nada semelhante com o que vemos no dia-a-dia do brasileiro comum.
Nos hospitais, idosos esperam sentados em cadeiras pelo atendimento de urgência.
Homens, mulheres e crianças em corredores apertados, sem atendimento de qualidade.
Mulheres que acabam parindo na porta de hospitais por falta de macas, leitos ou qualquer outra coisa.

Não se trata de minimizar a dor do outro, mas em se maximizar
É duro sair na fase final de uma Copa que você esperou 4 anos para disputar
Mas ocupar 90% das mídias com o caso, é no mínimo ridículo.
Existem outras tantas coisas a serem priorizadas.

Um viaduto caiu em uma cidade, pessoas morreram.
Uma mulher que estava trabalhando num ônibus, perdeu a vida.
Deixa uma criança de 5 anos. Uma menina que nunca mais verá sua mãe.
A jovem de 24 anos foi uma verdadeira heroína ao frear o veículo que dirigia, evitando mais mortes

Um outro rapaz, de 25 anos, foi esmagado pelo viaduto.
Iria buscar sua esposa no trabalho. Um homem trabalhador que criava os enteados como filhos
Seus pais vivem uma segunda tragédia, pois perderam uma filha quando esta tinha 13 anos, vítima de uma doença rara.

Não houve tamanha comoção. Na mídia apenas flashes rápidos.
Os meios de comunicação estão mais preocupados com a copa
Com os "heróis" de amarelo que correm atrás de uma bola visado o auge de suas carreiras.

Enquanto isso, na distante Recife, protestos contra a especulação imobiliária acabam em violência.
Pessoas que acampavam tranqüilamente nas ruínas do cais são expulsas com brutalidade.
O povo é ignorado.

E o que falar de outros esportes?
Atletas que não tem nem metade da atenção dos nossos boleiros masculinos.
No futebol feminino, sequer uma liga.
Mesmo tendo a maior atleta de todos os tempos nessa categoria

O que falar de Laís Souza?
Uma jovem de 25 anos que ficou tetraplégica defendendo as cores do país.
Houve comoção igual?
Hoje, ela luta para pagar seu tratamento, dependendo de "vaquinha" da população, pois o COB não acha que ela estava ainda "à serviço" deles pois estava na fase de treinos.

Mas o jovem mimado, egocêntrico e vaidoso é supervalorizado.
O jovem que se negou a entregar ovos de páscoa em um lar que cuida de pessoas com paralisia cerebral apenas por ser este um local espírita.
Um jovem que forçou a demissão de um técnico de futebol vitorioso em sua equipe, pelo melindre de ter sido punido por insubordinação.

Será que é realmente indiferença à dor do outro não se emocionar com tais discrepancias?
Será que temos todos que inundar as redes sociais com palavras de revolta contra um infeliz que teve uma atitude irresponsável e machucou um colega de profissão.?
Quando nós mesmos tivemos atletas que feriram outros no passado.

Reasco, jogador do São Paulo, teve fratura na tíbia em 2006 devido à um chute de um jogador do botafogo. Não houve comoção.
Juninho Paulista ficou fora da Copa de 2008 quando estava no auge por ter fratura no tornozelo.
Não houve comoção.
Leonardo, lateral do Brasil na copa de 94, deu uma cotovelada no jogador dos estados unidos e este foi submetido à cirurgia. Houve quem defendesse o jogador brasileiro.
Tantos e tantos outros casos

Sempre fui fanática por futebol.
Mas minha paixão pelo esporte não pode e não será maior que meu senso de justiça.
O país valoriza os milionários da bola e escraviza o seu povo.
Dá-lhes pão e circo e alimenta sonhos alheios a realidade da população

Viva a copa da mentira
Viva o país das vaidades
Onde não há diferença social ou injustiça.

Parafraseando o poeta Renato Russo
Vamos celebrar a estupidez de quem escreveu este post.

terça-feira, 24 de junho de 2014

As coisas simples da vida.

Coisas simples, doces, ternas
O perfume de uma flor, o canto de um pássaro
Uma fria manhã de chuva
Um doce por do sol

O sorriso de uma criança que descobre uma borboleta
Um abraço amigo na hora da dor
O alívio de um parto
A brisa suave que refresca do calor

Chocolate quente no inverno
Um bom sorvete no verão
Simples prazeres da vida
Doces como uma ilusão

Onde andam as coisas simples?
Meus pés não encontram a areia branca da praia
Meu sorriso se fechou como uma manhã cinza
O doce ficou amargo

A dor é um prazer insano
É o vício de ser mundano
A dor encobre a magia da vida
Apaga a beleza das coisas simples

Procuro um instante de felicidade
Uma rosa que desabrocha diante dos olhos
Uma jovem gaivota em seu primeiro voo
Um doce fruto colhido do pé pelas mãos de um amado

Doces perfumes, gentis risadas
Um jogo de poker, uma piada sem graça
Rir de si mesmo, fazer pirraça
Ser vivo mesmo perante uma desgraça

É possível estar morto estando vivo?
É possível não sentir o cheiro das rosas?
É possível perder-se dentro de si mesmo?
É possível encontrar sentido na vida?

Do simples me alimento
Sentar no chão, comer com a mão
Perseguir um passarinho
Se fazer de bobo no meio da multidão

Busco o ar que me faz respirar
Das coisas simples que me fazem sorrir
Da brisa do mar que canta para me acalmar
Da busca infinita daquilo que me faz feliz

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Árvore

Um dia eu sonhei que era uma árvore
Rapidamente, ergui-me pelos céus
Meus braços eram galhos que abrigavam na chuva
Frondosa, dava frutos que nutriam as criaturas da terra

Mas eis que tive vontade de ver o mundo
Ao olhar para meus pés, percebi-os fincados ao chão
As raízes, por demais profundas
Estava presa em meu ser

Em mim, pousou um pássaro
Ele voava alto pelos céus
Trazia em seu bico, vestígios de terras longínquas
E em meus braços, fez seu ninho

Jovens pássaros em mim fizeram morada
De meus braços, deram seu primeiros e tímidos vôos
Fui refúgio, abrigo, morada
E avistei-os erguendo suas belas asas ao infinito

Outros tantos, por mim passaram
Com suas cores e cantos
Deram-me vida e encanto
Acolhi-os em meus braços e chorei em cada partida

Meus pés cansado, ainda fincados
Com raízes firmes, me fiz rocha
Meus galhos eram vastos e faziam sombra aos namorados
Resignei-me pela dádiva de servir

Meus pés fincados no chão
Meus braços alçados aos céus
Meu pensamento voa longe como um pássaro
Meus frutos alimentam a terra

Passam por mim, milhares
Com suas histórias e sua vida
De mim, se nutrem e se protegem
Deles, me abasteço de vida

E eis que é chegada a minha partida
Meus galhos não mais buscam os céus
Minha morada está frágil, não há mais ninhos
Namorados não se encontram aos meus pés

Recaio, perco folhas, perco galhos
Vermes se apoderam do meu corpo
Estou ao fim da minha jornada
Tombo ao cair da tarde, junto com os últimos raios de sol

Meus pés, finalmente livres
Mas não tem forças para andar
Olho pro céu e apodreço
Cheguei ao meu fim

E eis que um pássaro me chega de mansinho
Abre suas longas asas sobre mim
Me diz que de mim se nutriu
E agradece pelo que lhe dei

Me pergunta qual meu maior desejo
"Ser como tu e alçar grandes vôos pelo infinito"
O pássaro então me diz:
"Não percebes o bem que fizeste a mim e a tantos outros?"

"Tu foste morada e abrigo
Teus galhos foram escola
Em ti, me protegi de todos os perigos
Por causa de ti, comecei a viver"

Percebi então, em minha hora final
Que nada na vida é em vão
Meus pés permaneciam fincados para dar sustento
Fui a fortaleza que guardou grandes almas

"Voaste sim - continuou o pássaro a falar -
Voaste em cada folha que se desprendeu dos teus braços
Voaste em cada semente que os pássaros levaram de ti
Chegaste às mais longínquas terras.
Lá estão teus filhos
Que estão destinados a seguir tua sina
E jamais saberão o quão grande você foi"

Então, meu pequeno - disse-lhe eu ao jovem pássaro
Leva minha história aos meus filhos
Faz-me infinita
Mostra ao mundo que cada ser tem seu papel na vida

Ao acordar do sonho, percebi que sou uma árvore
Que minhas raízes não me prendem ao chão
Elas me sustentam e me mantém firme durante a tempestade
Meu pensamento é livre como um pássaro

Sou escola, sou abrigo
Assim como retiro da terra o meu sustento
Sustento aos que em mim se recolhem em temporadas
Somos todos árvores

Somos a nossa própria fortaleza
Aos nosso pés, as raízes que nos sustentam
Acima de nossas cabeças
Apenas a imensidão do céu.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Seja infinita, minha tia

Hoje faz um mês
30 dias de saudades
4 semanas de negação
Pouco mais de 732 horas e contando

São 30 dias sem teu rosto
Sem tua voz, sem teu sorriso
30 tristes dias em que você se foi
E levou consigo a sua alegria

As lágrimas ainda não secaram
A dor ainda machuca
A saudade sufoca
A tua imagem eterna perdura

Foi em paz, a vida lhe fugiu em um suspiro
Como um sono profundo do qual não se acorda
Foi em paz, com um leve sorriso
No rosto, a expressão de quem não sofreu

Este é o meu alento
Esta é a minha conformação
De que em paz se foi
E de na paz se encontra

Pois a vida é um sopro, uma dádiva finita
A vida que estamos nos é emprestada
Um dia retornaremos ao pó, ao Pai
E neste dia, nos reencontraremos

A cada perda sentida, perdemos um pedaço de nós
Algo em mim deixou de existir
Um pedaço, como tantos outros
Que se desprendeu da minha alma

Um dia nos reencontraremos
Seremos de novo inteiros
Pois a vida é finita
Mas o amor não morre jamais

Leve consigo o meu coração
Fique na paz
Um dia, estaremos juntas de novo
E que alegria será neste dia

O dia que nos reencontrarmos
Haverá dança, risos
Haverá Gipsy Kings e muita algazarra
Haverá striptease e muita piada

Porque alegre foste em vida
Quantos risos vivemos
Quantas peças pregamos
Quão alegres foram nossos dias

Vai em paz
Leva teu sorriso, tua alegria
Nos deixe a doçura da lembrança
Foi uma honra ter sido parte da tua vida

Vai meu amor, minha tia querida
A saudade é enorme
A ferida ainda dói
Mas agradeço por você ter existido

Seja luz, seja vida
Seja a estrela que agora nos guia
Brilhe eternamente
Seja infinita

quinta-feira, 1 de maio de 2014

As Trevas em Mim

As trevas em mim me acalentam e tormentam
As trevas em mim me consomem as entranhas
As trevas em mim me apavoram e encantam

Quero perder-me nas trevas e achar-me na luz
Quero fugir do mundo e encontrar meu rumo
Quero que a escuridão domine e o sol resgate

As trevas em mim se enamoram
As trevas em mim sorriem lágrimas de sangue
As trevas em mim me dominam

Quero ser consumida nas trevas enquanto busco a luz
Quero respirar as trevas e exalar a luz
Quero ser luz mas ofuscada estou

As trevas em mim me perseguem
As trevas em mim se revelam
As trevas em mim me são eu
E eu nas trevas de mim sou seu

domingo, 20 de abril de 2014

A Morte

A morte nos chega aos poucos
Nos toma a cada suspiro
Cada batida do coração
É uma batida a menos

Cada olhar lançado no horizonte
É um olhar a menos
Cada gota de orvalho
Pode ser a ultima

A morte nos vem de mansinho
Nos acaricia a cada sonho
Enamora-se de nós em nosso repouso
Espera o momento certo de nos abraçar

Cada fio de cabelo que cresce, morre
Cada palavra dita ou não dita, morre
Cada criança que hoje brinca, morre
Cada árvore que nutre e floresce, morre

Frio, tremor, torpor
Morre o dia, morre a noite
Morrem sonhos, morre o amor

E eis que morremos todos
A cada dia vivido, é menos um dia
Cada página arrancada do calendário
É uma página a menos de existência

A morte reina serena
Nas nossas perdas e despedidas
Morremos a cada partida

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Suplício da Alma

E eis que em mim ele ressurge
O lado obscuro
O que de mim eu escondo
O meu submundo

O subterrâneo da minha alma
O sono profundo
A dor encarcerada
 O lago profundo

O corpo inerte não levanta
Os olhos fitam o nada
Das mãos trêmulas são escritas palavras
Palavras que a boca não profere

Eis-me aqui a pensar
Eis-me aqui sem sonhar
Eis-me aqui a morrer
Eis-me aqui a padecer

Não sou eu quem fala
É a angústia que em mim propaga
É a escuridão que me domina
Será está a minha sina?

A mão fere o corpo
A dor não é o maior suplício
A busca é por algo
Que me resgate do abismo

Não sou eu quem fala
É apenas uma parte de mim
A parte que se esconde
Entre os risos sem fim

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Vergonha: Um Caso Genoíno

Um caso julgado, uma corrupção. Entre 2005 e 2006 a compra de votos conhecida como Mensalão esteve ativa no Congresso Nacional. No ano de 2013, o caso foi julgado e 25 pessoas envolvidas foram condenadas. Ao serem efetivadas as ordens de prisão, deu-se início à mais uma comédia política no país.

Entre acusações de golpes políticos, exageradas reações de falsos heróis de lado à lado e chiliques partidários, a nossa mídia de rádio, TV, jornal e internet foi inundada de informações,opiniões, fatos e mitos. Não há ato de heroísmo em se fazer o serviço ao qual você se dispôs ao escolher uma carreira. Porém, tampouco existe perseguição política ao se investigar, julgar e prender um criminoso político.

Preso político ou político preso?

Não vamos confundir história passada com o presente latente. O fato de muitos dos condenados terem sido presos políticos no passado não os coloca em situação semelhante no presente. Não houve causa, senão a própria. As atividades ilícitas foram a causa genoína destas prisões. O fato de uma história falar pelo bem destes, faz com que suas ações sejam ainda mais condenáveis. Não apenas condenáveis, vergonhosas. Vexatórias. A história virou lama.

Agora o vexame se tornou ainda maior. Uma multa de mais de R$ 660.000,00 foi estipulada para que José Genoíno pagasse. O que fez sua família? Criou uma forma de arrecadar dinheiro dos "fãs" do político. Há que se louvar toda a inteligência destes em tornar todo o caso numa obra de folhetim. Desde a prisão, envolto em um lençol no pescoço, como se fosse um super-herói, o punho cerrado ao alto em pose de líder e militante de uma causa justa, passando pela brilhante jogada em cima da doença, com todo o drama de uma novela mexicana e culminando com os pedidos de "esmola" para a "causa".

Toda a questão foi tão bem articulada que muitas mentes se contaminaram com o dramalão e estão humildemente dando suas generosas contribuições pela "nobre causa". Enquanto a fome impera nos grandes centros urbanos, a seca assola o nordeste, o crime prolifera em todas as partes, a causa genoína atrai milhões. Dinheiro que é suado e que será derramado injustamente para remição dos pecados de um corrupto.

Quantos milhões não foram desviados de nossas escolas, hospitais, polícia, e bens públicos para movimentar a corrupção? Quanto de nós não é tirado diariamente para pagar salários astronômicos de pseudo servidores públicos, eleitos para lutarem em nossa causa? Quanto que estes senhores realmente advogam ou advogaram em nossa causa, seja num passado recente ou longínquo? Até quando seremos feitos de babacas perante os espertalhões que nos cercam?

Pensem, antes de doarem. Quem realmente merece o seu dinheiro e seu esforço.