terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sobre terror, tragédia, polémica e oportunismo

Recentemente, tragédias chocaram o mundo. Tragédias oriundas da psicopatia generalizada, oportunizada por falsos religiosos e tragédias nascidas da busca desenfreada do lucro irresponsável.
Em meio a estas tragédias, surgem defensores e acusadores. Pessoas que se preocupam com qual "bandeira" você se veste. E esquece de despir-se de toda a arrogância que cerca o homem, para se cobrir de solidariedade humana.

Sofro ao ver que pessoas foram mortas brutalmente por extremistas que usam a "desculpa" de uma religião para impor seus ideais aos outros. Por saber que pessoas são expostas a lavagens cerebrais tão violentas que sacrificam a própria existência para dar poder aos psicopatas. Isso me choca. Me aterroriza de diversas formas. Que poder tão absurdo é este que delegamos à pessoas que se acham no direito de controlar nossas vidas? De decidir quem de nós deve viver ou morrer?

De igual maneira, sofro em saber que todo um ecossistema foi assassinado. Não por homicídio doloso, ao menos não diretamente. Mas pela irresponsabilidade, pela ganância de querer se obter lucro indiscriminado. Uma barragem não se arrebenta de uma hora para outra. A tragédia era anunciada. Mas, preferiu-se a omissão. O pecado da omissão que se abate nos nossos governos e na nossa mídia que querem empurrar a lama para debaixo do tapete. Mas a lama é muito densa. É espesso o barro que corre pelo Rio Doce, deixando um rastro de morte por quilômetros.

São tragédias. São vidas que se perderam. São atos condenáveis. Não nos cabe ranquear qual catástrofe é maior. Para um pai que perdeu seu filho em um tiroteio. Para uma mãe que perdeu sua filha em uma enchente. Para o pescador que perdeu o seu sustento. Para cada vida, a tragédia é única e devastadora. Seja em um dilúvio ou uma enxurrada. Seja por uma bala perdida ou por um massacre. Vidas se perderam. Vidas que estão para sempre marcadas pela dor. São pais, mães, filhos, irmãos, amigos. São pessoas, que sofrem e que nada pedem, a não ser compaixão.

Tornou-se crime vestir as cores de um país enlutado? Por sermos brasileiros, não podemos nos compadecer com a dor do outro? Por outro lado, não podemos calar de forma alguma sobre o "tsunami de lama". Ele é a prova de que 23 anos depois, a chamada Eco 92 de nada nos serviu. Nem esta e nenhuma outra grande assembleia ambiental foi levada em consideração. Matamos um ecossistema com nosso silêncio.

Me entristece que agora, ao invés de se cobrar ação dos devidos responsáveis, se use tal fato para "politiquismos" partidários. A culpa não foi de quem vendeu, e sim de quem comprou. A culpa é de quem administra e fiscaliza. Mas acima de tudo, a culpa é de quem exalta uma forma de obtenção de ganhos que retira da terra violentamente os seus frutos. A mineração é danosa. É venenosa. Não estamos extraindo riqueza. Estamos condenando a natureza à destruição. Manipulando o equilíbrio químico e brincando de sermos Deus, ao decidir para onde o rio deve correr e em que local ele deve ser represado.

Tudo na vida tem consequências. Toda ação, tem uma reação. A reação de uma enxurrada de mercúrio que devasta uma cidade e mata um rio, após décadas ininterruptas de envenenamento químico. A reação de aviões bombardeando vingativamente as áreas às quais se atribui a existência de terroristas. E mais um ciclo de violência é eternizado. Quem terá o poder de interromper toda essa desgraca?

Parafraseando John Lennon: deêm uma chance para a paz.

sábado, 19 de setembro de 2015

Ser alguem

Eu tentei ser alguém
Tentei servir e ser útil
Achei que isso seria suficiente

Ser é uma condição
Eu existo, logo sou
Mas ser para si e não ser para o outro, de nada vale

Ser apenas
Ser somente
Digno
Útil
Amável, no sentido de ser passível de amor

Ser ouvido, compreendido
Ser notado
Ser mais que sombra
Poder falar sem ter que obrigar ser ouvido

Mas nem todos são alguém
Nem todos são ouvidos
Nem todos são notados

Chorar às escondidas
Em silêncio
No meio da noite
No chão de um banheiro

Ser menos que matéria inerte
Querer sentir o frio da lâmina em seus pulsos
Ou a corda circulando seu pescoço
Ou mesmo ingerir a dose que te livre da casca que prende o espírito atormentado

E mesmo assim, não encontrar coragem para fazê-lo
Procurar um ouvido que não quer te escutar
Procurar a ajuda que não virá
Insistir numa vida que não ama

Deus é minha companhia noturna
A quem eu peço que me leve, sem sucesso
A quem recorro nas noites insones regadas às lágrimas
Em silêncio, sempre em silêncio

E assim será
Até o fim dos meus dias
Pois não foi hj ou ontem
Esta é a realidade da minha existência
Não ser ninguém.

domingo, 28 de junho de 2015

Sobre "modinha"

"Somos todos iguais perante Deus"
"Somos todos pecadores"
"Não julgues para não serdes julgados"

Estas são apenas algumas expressões que ouvimos nas nossas igrejas. Expressões que se perdem fora do templo religioso, pois do lado de fora, o que ouvimos é uma série de críticas sobre uma simples mudança de foto nas redes sociais.

Não que todos sejam obrigados a concordar com as relações homoafetivas, nem tampouco são obrigados a comemorar por uma lei que garante aos tais casais o direito que nós heteros temos desde que foi instituída a união civil. Mas, acima de qualquer coisa, está o direito de se expressar livremente. Alguém pode dizer "mas eu estou no meu direito de criticar". Respondo com outra frase de efeito "meu direito não pode ferir o direito alheio".

Eu tenho o direito de não trocar a foto do meu perfil. Essa atitude não me impede de estar de acordo com a decisão da Corte Americana. Eu não preciso de bandeiras para provar o que acredito. Mas é um direito legítimo do ser humano ter suas bandeiras e de hastearem-nas em comemoração de suas vitórias. Vocês julgam alguém que veste a bandeira nacional quando seu time é campeão? Jogam pedras em quem usa as cores do seu time favorito em dias de jogo? Reclamam daqueles que usam a bandeira do estado estampada em camisas e bonés? Compram "caboclo de lança" para enfeitarem as salas de estar?

Por que então uma foto colorida na rede social te ofende tanto? Por que fere teus princípios? Por que usar a foto de crianças famintas para justificar a sua revolta pessoal? Se a fome te incomoda, lute contra ela. Mas não use como desculpa para agredir o direito alheio de comemorar algo que lhes é importante.

Eu também já fui contra o casamento gay. Mudei de opinião por estar com a mente sempre aberta ao diálogo. Não é vergonhoso mudar de opinião. O diálogo sempre foi e sempre será o melhor caminho para tudo. As pessoas temem discutir, argumentar. Temem as críticas e os "castigos divinos". O Deus em que acredito é o Deus do amor, não da intolerância e da vingança. Não o Deus vaidoso que quer apenas glórias para si. Que só se importa com quem exalta o Seu Nome. Se Deus me ama com meus defeitos não é porque eu estou na Igreja todos os domingos orando por ele. Mas simplesmente porque ele ama. E quem sou eu pra dizer o que Deus acha certo ou não? Se o maior mandamento é "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Agora pergunto: você que critica seu próximo por uma foto de facebook, está amando-o?

Quanto ao termo "modinha", bem, pode ser uma moda. Mas como toda moda, passa. Então não se importe tanto, porque isso passa. Quanto ao direito, graças à Deus, este fica. E por mais que incomode, ele irá perdurar. E se te incomoda que as pessoas tenham o mesmo direito que você, pense se você gostaria de ter seus direitos negados. Pense em sua situação daqui a 40 anos, você perde seu companheiro, a casa que estava em nome dele e a sua renda. E você há de viver com o que? A dor, a saudade. Se você se colocar no lugar do outro, vai entender o que o outro sente. Não custa muito. É um exercício de humanidade.

Mais uma vez reitero, não precisa concordar. Mas é imperativo que se respeite.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Sobre respeito, religião e sexualidade. Vivendo num mundo de intolerância.

Nas últimas semanas nos deparamos com mais capítulos de intolerância. A mídia lança uma campanha, o ódio e a intolerância se proliferam. Acontece uma parada LGBT e a intolerância religiosa e desrespeito aos dogmas cristãos são camuflados com frases de "liberdade de expressão".

E assim, a melhor defesa acaba sendo o ataque. E não há consenso. Não há trégua, pois as partes não procuram se respeitarem.

Qual o problema real em se ter um comercial que retrate tipos diversos de casais? Você mudaria de opção sexual por causa de um modismo ou de uma propaganda bonita. Você fumaria crack se a embalagem fosse bonita? Você se veste de acordo com seu gosto pessoal ou cede à moda? Tudo isso passa por quem você é. Se você é hetero, um comercial não vai mudar isso. Se você é gay, uma falsa "cura", uma imposição social ou religiosa não vão mudar quem você é.

Mas isso te dá o direito de agredir aos religiosos, usando e zombando de seus símbolos? Que benefício você tira ao retratar Jesus beijando outro homem? Ou retratar um padre ou pastor, muçulmano ou rabino como homossexual? Como conseguir o respeito dos cristãos se o símbolo máximo de Jesus na cruz é escarnecido por uma travesti seminua em carro alegórico?

O problema é por ser travesti? De forma alguma. O problema é por criar uma polêmica desnecessária. É agredir o outro para conseguir a sua liberdade. Mas não existe liberdade de direito quando não respeitamos o direito do outro. Isso inclui respeitar os dogmas as imagens ou qualquer outro símbolo que o outro utilize. Não há necessidade de agressão mútua.

Não estou aqui para defender um ou outro segmento. Escrevi posts anteriormente sobre liberdade, intolerância e revisão de conceitos sobre ordem familiar. Aqui apenas friso que não há mocinhos ou bandidos nesta relação. Existe sim a intolerância mútua. E o radicalismo de parte à parte, que dificulta o diálogo e o entendimento.

Boicotar a marca de perfume vai impedir de existirem gays? Tirar um comercial ou uma novela do ar vai mudar algo na sociedade? Apenas trará de volta o fantasma da censura. Perseguir a travesti que foi "crucificada" apenas lhe dará a mídia que ela mesma buscou. E continuamos combatendo fogo com fogo. Preconceito com preconceito. Intolerância com intolerância. E esse ciclo vicioso não cessa.

Gostaria que todos tivéssemos a coragem de fazer o que Jesus nos pediu há 2 mil anos: perdoar é oferecer a outra face. Pois ele foi humilhado, cuspido, linchado e crucificado por ser diferente. Mas em momento algum respondeu com agressão ou mesmo atacou verbal ou moralmente quem lhe humilhava.

Por mais que nos achemos "evoluídos" ou "moralmente superiores", não conseguimos o básico. Amar ao próximo, com suas diferenças e defeitos. Não somos todos iguais, nem nunca seremos. É errado tentar moldar i outro ao que você julga ser o certo. Então que tal um exercício de humanidade ao respeitar o outro?

Preconceito existe. Ninguém é perfeito. Mas o respeito deve ser superior. Ame e respeite, mesmo que não concorde. A vida dos outros não é sua para querer controlá-la. Viva a sua vida e respeite a vida, os dogmas e a liberdade política, social, sexual e religiosa dos outros.

Artigos relacionados:

http://oladoobscurodalua.blogspot.com/2011/11/o-homossexualismo-e-intolerancia.html

http://oladoobscurodalua.blogspot.com/2013/04/em-defesa-da-familia-polemicas-e.html

sábado, 7 de março de 2015

A paleta da dor

A dor é uma paleta das mais diversas cores
Do vermelho do olhos chorosos
Da transparência das lágrimas
Do brilho dourado que tinge a branca pele do rósea ao púrpura
Roxo, vermelho, sangue, derrame
Que empalidece com os dias, amarelando as feridas
Formando um arco íris sofrido que se demora a desfazer-se
Que salta aos olhos mais curiosos, mesmo camuflados em grossos tecidos
É a essência do sofrer que não se conforma em ser interno
Tem de vir à tona, à pele
Na superfície sufocante da dor, não mais psíquica apenas
Mas tornada física
Num êxtase agoniante, uma dor pulsante
A respiração que se corta quando a dor é intensa
Interrompe o pensar
E queima, e coça, e esmaga
Deixa o vermelho da vergonha
Numa palheta tingida pelo inferno que corrói a alma

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Alguém de lugar nenhum

Ser, existir e não pertencer
Pertencer à coisa alguma
A lugar nenhum
Sentado em busca do nada

Tentar encaixar um losango num quadrado
Uma forma concêntrica em um triângulo isósceles
Há sempre brechas
Há sempre vazio

Buscando o lugar nenhum das canções dos Beatles
Jeremy, tão Nowhere Man que pela geleia perolada se tornou
King Jeremy, The wicked
Besouros ou pérolas, jeremy governou sua Nowhere Land

E quantos de nós não somos como ele?
Pequenos num mundo gigante
Gigante morando numa ervilha
Não cabemos em nós mesmos de tão grandes e tão pequenos

Grotescos o bastante para apreciar o sofrimento
Sonhadores demais para aceitarem a sociedade
Se o chão não nutre, que o céu traga tormentas
Afinal, melhor morrer sendo o que deveria do que viver e nada ser

Silêncio. À noite abafa os gritos da alma
Sussurros e gemidos camuflados pela noturna penumbra
Nowhere land, Nowhere plans
Perdidos num oceano de incertezas.

Somos todos um pouco utópicos
Os sonhadores, os mártires, os poetas
Párias da sociedade
Em busca da conformacao da alma

Homens de lugar nenhum buscando ser alguem

domingo, 4 de janeiro de 2015

Palavras

Fale
Não fale
Seja, respire, ouça
Olhe, fale, chore
Respire, concentra, não fale

Não se deixe dominar
Deixe entrar
Adormeça, fuja, encare
Seja, confie, não fale

Procure, ache
Se perca, se encontre
Suma, não suma
Você pode, você é

Voe, sonhe
Adormece, não se vá
Volte, encontre
Se encontre

Palavras, palavras, macabras
Flutuam, se escondem
Emudecem
Fale, não fale

Sou eu, não sou eu
São apenas palavras
Respire, concentre, fale
Não fale

Desapareça, reapareça
Palavras e mais palavras
Pensamentos mudos
Sonhos turvos

Não fale, fale
Seja, não seja
Sinta não sinta

Deite, caia
Levante, respire
Concentra, fala
Não fala, não levanta

Respire, abra os olhos
Olhe, ouça, fale
São palavras
Nada mais que palavras

Quem sou eu é quem eu fui?
Quem serei
Imersa em mudas palavras
Em contos e cantos inférteis

Emudecem o corpo e a alma
Retrocesso de espírito
Fale ou não fale
Seja ou não seja
Sinta ao não sinta

Sou eu
É você
Somos nós
Mudos em imensidão de palavras