sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Aos Foliões e Devotos Religiosos: Carnaval x Fé

Mais um ano a festa pagã mais comentada do país se inicia em meio a uma guerrinha particular com os fervorosos seguidores do Cristianismo. A cada ano parece-me que deve-se fazer uma escolha entre Deus ou o carnaval. Me pergunto o por quê de tal imposição e não encontro uma explicação plausível que me convença da maleficência do carnaval. Carnaval não é religião e não possui culto, seja ele à Deus ou ao temível e provavelmente inexistente Diabo.

Atribui-se o rachasse ao Carnaval por este se tratar de uma festa pagã. Outro argumento insuficiente, visto que o paganismo é um termo erroneamente empregado nas religiões cristãs. Pagão é um termo que designava os povos politeístas e que passou a ser usado para designar os não cristãos. Não tem nada haver com adoração ao mal. O fato é que 90% dos feriados e datas comemorativas do nosso calendário devem-se às festas românicas religiosas e o carnaval destoa das demais por não possuir um culto arraigado ao seu sentido. Ela existe apenas para ser celebrada.

A religião nada nos impõe, mas os religiosos obrigam aos seus servos fazerem uma escolha, como se brincar e se divertir fosse pecado e contra os preceitos da igreja. Não entendo por que a dor e o sofrimento são tão celebrados nas religiões, mas a folia e a diversão são condenáveis. Obviamente que não são todos os seres humanos que se divertem com o tipo de diversão proporcionada pelo carnaval, mas não se deve demonizar algo apenas para causar medo aos fiéis.

Se ocorrem crimes, badernas e desordens isso não é privilégio do carnaval. É uma falha de carácter humano e pode ocorrer em qualquer época do ano. Aliás os maiores crimes da história foram cometidos em nome da fé. A fé cega que tenta obrigar que todos os seres humanos sigam aos mesmo dogmas e às mesmas crenças sejam elas católicas, protestantes, judaicas, muçulmanas, etc.

Sou católica, temente a Deus e minha fé independe de seguir cegamente aos dogmas religiosos. Brincar o carnaval não me faz amar menos a Jesus nem me afasta do caminho do respeito e amor ao próximo. É possível ser feliz em 3 dias e estender essa felicidade para os demais 362 dias do ano, ou 363 em anos bissextos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Whitney: I Will Always Love You

Uma voz ecoa em meio ao silêncio. Canta em vibrato os versos de Dolly Parton e revigora aquilo que em sua essência já parecia ser perfeito. Naquele momento, embora a artista já obtivesse considerável fama, surgiu um mito. Bastou-lhe uma canção, uma versão, e o mundo mudou em um instante. Exibida à exaustão, nos embriagamos de Whitney. Comemos e bebemos, fartamo-nos de sua voz e de seu talento. Talento que vem de berço, uma vez que sua mãe foi backing vocal de Elvis Presley e sua prima é a lendária musa de Burt Bacharach, Dionne Warwick.

Entre baladas e canções dançantes, sua voz manteve-se firme enquanto pode. Enquanto não sucumbiu à voracidade da fama. Conturbadas relações pessoais, aliadas às já conhecidas pressões midiáticas, minaram aos poucos a auto confiança e sanidade. O refúgio foram as drogas. A fuga da realidade que ao longo dos anos tem deixado órfãos legiões de fãs que, inconsoláveis, não encontram substitutos para os seus ídolos.

A morte é impiedosa para todos. Mas ver morrer a arte ainda enquanto jovem é devastador.

Os vícios roubaram-lhe a juventude, o vigor físico e a voz. Mas ela lutou, tentou livrar-se de seus algozes e enfrentou multidões que impiedosamente vaiaram-lhe enquanto ela tentava ressurgir das cinzas. Não é fácil fazer voltar a glória perdida. Me recordo de Callas que viu sua voz "quebrar" no meio de uma ária, cercada dos críticos olhares de ouvintes que apenas querem atestar o fracasso das grandes estrelas.

Mas nós sempre amaremos Whitney. Sempre a recordaremos. Não como a figura esquelética, frágil e dormente pelo vício. Amaremos a voz que nos tomou os corações e nos fez sonhar e alegrar-nos por existir música neste universo. Rest in peace Whitney, we will always love you!!!!

Parceiro: Casa da Musika

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pinheirinho: O Caso do Descaso.

Tropas de choque, bombas de efeito moral, balas de borracha. Uma comunidade destruída em questão de horas por força de uma ordem assinada em papel com tinta e sangue. O povo lutou, reivindicou seus direitos, mas a força bruta prevaleceu. Entre as lágrimas de muitos, a revolta surgiu. Incendiando a alma dos moradores e os carros e estabelecimentos comerciais que ali estavam postos. Tudo em virtude da falta de trato para questões delicadas que possui o nosso sistema.

Não é difícil encontrar casos neste país em que terrenos improdutivos e não utilizados pelos seus donos sejam tomados por aqueles que por necessidade invadem-os para ali residir. Com cidades cada mais mais "inchadas", a população menos abastada vai sendo comprimida em pequenos guetos e acaba por procurar soluções para viver mais dignamente. Por não possuírem poderio econômico, apossam-se destes terrenos e lá depositam o pouco que possuem. Com suor constroem suas casas e estabelecimentos comerciais, ainda que ilegalmente.

Os legais donos ignoram estes fatos. Não necessitam daquele terreno de imediato e portanto não reivindicam de imediato a posse. Mas a falência vos chega e todas as posses são necessárias para salvar o que puderem do patrimônio. Então aqueles posseiros que eram 10 multiplicaram-se em 1000. Ali, famílias se formaram e este fato não pode ser ignorado.

O direito legal dos reais donos não pode passar por cima dos direitos humanos. Não é direito invadir as casas que com tanto esforço foram construídas de forma brutal e estúpida. A falta de competência do nosso sistema e das pessoas que o operam gera um ambiente de guerrilha. De um lado moradores armados de paus e pedras. Do outro a força policial e toda sua magnânima estupidez. O caos impera.

Os políticos que tanto alardeiam em campanha o tanto de novas moradias que serão construídas emudecem nas horas críticas. Quem estava lá para remover dignamente aquelas famílias para novos e legais imóveis? Quantos foram os que dialogaram com aquela população para evitar as chocantes cenas de escavadeiras derrubando moradias, em meio ao desespero dos que nelas habitavam?

Nos chega agora a ONU tal como uma mãe que dá bronca num filho que acaba de fazer alguma bobagem qualquer. Um país cuja história tanto traz de lições quanto às questões de direitos humanos. Uma nação que vive sob o manto da "ORDEM E PROGRESSO". A ordem é a força e o progresso é privilégio de poucos. Mais uma vez mostramos ao mundo a nossa truculência.