quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nosso Pequeno Viveiro de Monstros

Jeremy falou na aula de hoje. Em todos os dias do ano, sua voz mal era ouvida. Na sua quietude, o menino incomodava os demais que acabavam por persegui-lo e torturá-lo mental e fisicamente. Sem perceber, acordamos o leão adormecido. Abrimos a jaula e liberamos toda a voracidade e crueldade daquele pequeno ser. No nosso pequeno viveiro, alimentamos nossos bebês com doses gradativas de agressividade. Quando finalmente se torna grande, libertamos nosso monstro dentro da sociedade. Não esperamos grande coisa deles, já que os mesmos não apresentavam nenhuma qualificação especial, nenhum dom que merecesse uma atenção maior de nossa parte. Então deixamo-os à própria sorte, bem ou mal ele há de viver. Mas ele se tornou grande demais para que possamos controlá-lo. Ele cresceu na selva e depois de muitas vezes ter sido presa, agora ele é predador. Ele reconhece os passos daqueles que outrora colocaram-lhe a cabeça dentro de um vaso sanitário. Ele não mais teme o escuro porque por muitas vezes se viu trancando em armários. Mas ele encontrou uma forma sórdida de não mais ser ridicularizado. Jeremy será ouvido, custe o que custar. Ninguém lhe deu ouvidos e não perceberam o quanto ele era inteligente. Ele é um sobrevivente, será ele quem escolherá o dia e a hora de morrer. Seu destino será traçado apenas por ele próprio. A incapacidade humana de reconhecer os perigos que habitam as mentes psicóticas será provada com o sangue daqueles que não tem nenhuma participação direta na criação dos monstros. E o monstro é grande e inteligente demais para se deixar notar, para se deixar capturar. Ele irá completar seu objetivo, seja este qual for. Será derramado sangue, seja este de 1, de 100, de 1000 ou de milhões. Jeremy é Wellington, é Eric, é Dylan, é Hitler. Jeremy vive na nossa sociedade, adormecido em nosso pequeno viveiro, esperando se tornar grande demais para que possamos controlá-lo. Os Jeremys do passado cumpriram suas metas macabras, não podemos mudar os fatos. Mas não podemos continuar virando as costas e nos isentando da culpa que nos cabe pois neste exato momento outros Jeremys estão sendo criados nos nossos viveiros. Continuaremos alimentando nossos predadores? A mente humana é fascinante e perigosa. Ela é frágil e sucumbe com a pressão, embora permaneça laborativa e ágil, porém sem controle. Jeremy precisa ser ouvido, mas antes de se tornar um monstro.

Um comentário:

  1. O texto se baseia em recentes fatos sociais, aliados à referência da música Jeremy do grupo Pearl Jam.

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